segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Outros riscos...

Cheguei a Nampula anteontem. Nampula é considerada a Rainha do Norte de Moçambique, integrada numa Província com o mesmo nome, mas a qual é também conhecida por "Ilha de Moçambique". Considerada Património Mundial, é uma urbe com uma forte influência árabe e também foi geografia dos Lusíadas já que, ao que parece, o Luis utilizou-a durante uma paragem por cá, durante cerca de dois anos.

Farei apenas uma curta escala em Nampula, mormente o meu objectivo é seguir no próprio dia para o Litoral, para Nacala, onde decorrem os trabalhos que acompanharei. Memso assim, Nampula deixa-me uma leve curiosidade, e no caminho fiquei programando, uma paragem mais desafogada por aqui, para sanear alguma dessa vontade de conhecer.

Parto em direcção a Leste, uma viagem de carro que não deverá durar mais do que duas horas. A distância linear será equivalente ao percurso mais frequente que usava no meu momento anterior por terras de Angola para ligar as duas sedes de província mais a Sul: Lubango (proivíncia da Huila) a Ondjiva (Provincia do Cunene) mas, rapidamente ressuscita na minha memória o terror de uma ligação de picada no seu mais deplorável estado e condição de pavimento, onde apenas se notam, em parcos percursos, retalhos do asfalto que outrora os portugueses assentavam e que parecem querer resistir no tempo como trapos rasgados pela carga dos blindados que por aí passearam na guerra civil e dos trânsitos que se seguiram em rotinas que, até aos dias de hoje, forçam a circulação de pessoas e bens desde e para a fronteira com a Namíbia.

Todavia, não tive tempo, nem sequer me ocorreu perguntar o estado do pavimento desta feita, mas na minha ideia pairava essa dolorosa memória de um percurso que levava a fazer cerca de oito horas e que nos obrigava quase sempre a terminar o dia no momento de nossa chegada, recuperando as faculdades e o vigor para a nossa missão profissional que nos conduziria até aí. A estrada sería apenas um meio, mas o caminho tornar-se-ia longo e bravo e, tentavamos apenas convencer-nos que se porventura um (contratempo) surgisse, sempre teríamos a mão de Deus, como suporte quase exclusivo, já que os telemóveis, ou a rede que os operacionaliza, ai seriam coisa de próximos tempos...

Desta vez viajava só, e a poucos minutos do início da viagem, esse mito desapareceria. O tempo ia-me mostrando que esta superfície seria desta vez mais fácil de percorrrer, ja que o pavimento se estende a todo o seu comprimento e a condição de visibilidade e sinalização parecem razoáveis.

Teria apenas de me adaptar a circular pela esquerda, uma vez que aqui tudo se move do outro lado, bm como redobrar a minha atenção pois o maior tráfego é de peões e não de carros, que ocupam as bermas e que assaltam imprevisivel e frequentemente o espaço destinado aos motorizados, mostrando os seus artigos
ou frutos a retalho.
Não resisto a uma das ofertas, e o rapaz que se aproxima mostra-me dois sacos com caju (ainda morno) apresentando-me o valor difrenciado de 200 e 250 meticais.  Ainda lhe perguntei porque distinguia o produto, tentando convencer-me que seriam quantidades diferentes. Não me convenceu o argumento, mas também não negociei desta vez, e trouxe os frutos que até hoje me ajudam no stress mandibular entre as refeições...

Nacala aceita-me ao cair da tarde. Esta é uma povoação praticamente ressuscitada pelo movimento de
uma infraestrutura maritimoportuária precária, implantada no tempo colonial. Contorno parte da baía e alcanço a parte mais recente (Nacala Porto, como lhe chamam) e tenho apenas tempo de deixar os meus haveres no Hotel.

Do meu quarto não se vê, o mar. Tinha saudades dele, mas precisaria de subir certamente mais 2 pisos e de mudar de orientação. A janela relembra-me que ainda estou em África, mostra-me quase o mesmo quadro: sobre um solo desnudo e ocre, dois ou três quimbos escondidos entre cajueiros e outras espécies de dimensões exageradas, dois asseiros entre-cruzados onde correm crianças de pés nus e outras mais crescidas que os encaminham para um qualquer destino.

O Samuel espera-me. É um colega estagiário, um rapaz solicito e afável que se dispõe logo a mostrar-me parte dos trabalhos que aí decorrem até que a luz do dia nos permita. Tocámos quase todos os pontos da sondagem on-shore. É uma zona de pescadores e extremamente empobrecida e destruturada. Neste caminho recorda-me que deveria ter trazido a protecção de pernas (perneiras) já que o local é profícuo em serpentes venenosas. Aproveita para me contar o último episódio de ha poucos dias com uma espécie que se instalou num dos sanitários de apoio à obra e que envolveu um dos trabalhadores em serviço. O fim foi o melhor, já que animal terá sido dizimado em legítima defesa no momento em que se alinhava para a ofensiva. Aqui os riscos e a segurança são diversos, muito para além do que nos habituaram aí! Outros riscos...

Até já!

2 comentários:

  1. entao babyinho foste picado?? nunca mais escreveste....

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  2. Nampula:a minha cidade...e naturalmente nessa viagem para Nacala percorreste os meus caminhos.Senti saudades ao ler o teu post.Felicidades por aí!

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